25 de novembro de 2010

Ken Robinson: RSA Animate - Changing Education Paradigms




Mudar os paradigmas educacionais
«Todos os países do mundo, neste momento, estão a REFORMAR a educação pública. Tal deve-se a duas ordens de razão: a primeira é económica – Como é que deveremos educar as nossas crianças para que tenham lugar na economia do século XXI? E como é que o poderemos fazer se nem conseguimos antecipar como é que a economia estará na próxima semana?; a segunda é cultural – Como é que deveremos educar as nossas crianças para que adquiram um sentido de identidade cultural e, ao mesmo tempo, se insiram no processo de globalização?
O problema é que estão a tentar preparar o futuro fazendo aquilo que já fizeram no passado e, com isso, estão a alienar milhões de crianças que não vêem qualquer propósito em ir para a escola. Na verdade, dizem que se formos à escola, trabalharmos muito e nos comportarmos bem, então teremos uma qualificação académica e arranjaremos emprego. Contudo, as nossas crianças e jovens não acreditam nisso. E fazem bem, pois se é melhor ter um título académico do que não o ter, tal já não constitui garantia de emprego. E, sobretudo, se este caminho em direcção ao futuro colocar à margem aquilo que são as nossas prioridades.
Afirmam que deveremos elevar os nossos padrões. Certamente que o deveremos fazer. Contudo, este sistema educativo foi pensado, concebido e estruturado para uma época diferente, no ambiente cultural do Iluminismo e nas circunstâncias económicas da revolução industrial. Anteriormente ao século XVII não havia sistemas de educação pública. Mas suportada pelos impostos, compulsiva para todos e grátis no ponto de entrega, criou-se esta ideia revolucionária. Contudo, muitos opuseram-se e afirmaram não ser possível esta escolaridade aberta a todas as classes sociais, pois muitos de classes inferiores seriam incapazes de ler e escrever e estaríamos a perder tempo com eles. Estas assunções baseavam-se na ideia de uma certa hierarquização social guiada por um imperativo económico desse tempo. Na base, estava um determinado modelo intelectual da mente, assente no pensamento dedutivo e na leitura dos autores clássicos. E estas capacidades académicas estão inscritas profundamente no sistema de educação pública. Em consequência, existe uma separação das pessoas em dois grupos: os académicos, gente esperta; e os não-académicos, considerados como não sendo espertos – resultando em que muita gente brilhante não se valorize.
Em suma, a educação pública assenta em dois pilares: económico e social. Ora, [segundo Ken Robinson] este modelo gera o CAOS. É certo que alguns beneficiam deste sistema, mas tal não acontece com a maioria. A moderna epidemia do Transtorno do Défice de Atenção (ADHD) é fictícia. Não que negue a sua existência, mas continua a ser um assunto em debate. O que constitui um facto é que não é uma epidemia. As crianças estão a ser medicadas e é uma moda na medicina. As crianças estão a ser estimuladas como nunca o foram na história da humanidade por computadores, iphones, publicidade e inúmeros canais de televisão – por isso distraem-se… de matérias aborrecidas – da escola em geral. Não foi por acaso que o ADHD aumentou com os testes estandardizados. Os medicamentos como o Ritalin, perigos na maior parte dos casos, mantêm-nos calmos e focam a sua atenção. O resultado foi o aumento do Transtorno do Défice de Atenção um pouco por todos os E.U.A. Porquê? As Artes são as principais vítimas desta mentalidade, devido à experiência estética provocam e, quando os sentidos são elevados, sentimo-nos plenamente vivos. Ora, muitas das drogas anestesiam os sentidos e adormecem-nos para a realidade. Assim, estamos a conduzir as nossas crianças no processo educativo anestesiando-as, em vez de fazermos exactamente o contrário: despertá-las para aquilo que possuem dentro de si.
K. R. crê que a educação está modelada pelos interesses da industrialização e à sua imagem. Apresento alguns exemplos: as escolas estão organizadas como linhas de produção, com toques de campainha, separação dos sanitários, aulas especializadas e separadas por assuntos, e ainda educamos as crianças por “lotes” – como seja a idade. Por que razão a idade é importante? O mais importante é a data da manufactura? Crianças da mesma idade têm interesses diferentes, umas estão melhores num certo período do dia, ou trabalham melhor em grupos pequenos ou grandes… se estiver realmente interessado num modelo de educação não começa por uma mentalidade de “linha de produção em série”. É a mesma mentalidade subjacente aos testes ou aos currículos estandardizados – uma conformidade, a estandardização. K. R. acredita que deveremos ir exactamente na direcção contrária – daí o título “mudar o paradigma”.
Há um excelente estudo actual sobre o pensamento divergente. Não é a mesma coisa que a criatividade, definida como o processo de ter ideias originais dotadas de valor. Não são sinónimos, mas o pensamento divergente é uma capacidade central para a criatividade. É a capacidade de encontrar inúmeras respostas possíveis para uma questão, variadas interpretações possíveis para essa questão, a capacidade de pensar lateralmente (Edward de Bono). Em Break Point & Behind, foi realizado um estudo longitudinal a 1500 pessoas visando testar o pensamento divergente. Se atingirem determinado nível, são considerados génios do pensamento divergente. Para as crianças do jardim infantil, a percentagem foi de 98%. Ora, as mesmas crianças foram novamente testadas cinco anos mais tarde, confirmando que todos temos esta capacidade mas que esta se deteriora com a idade. Para K. R. a variável em falta é que vamos sendo “educados”. Tal não acontece por os professores o quererem, mas por já estar inscrito no código genético do sistema educativo. Portanto, temos de pensar de maneira diferente acerca das capacidades humanas. Esta velha concepção dual (académico vs. não académico, etc.) não é senão um mito. Muitos psicólogos apontam para que a melhor aprendizagem ocorre nos grupos e que a colaboração é a matéria-prima do desenvolvimento. Se atomizarmos as pessoas e as separamos, em vez de juntarmos, criamos uma espécie de disjunção entre elas e o seu meio de aprendizagem natural. E reflecte-se nos hábitos das instituições e no habitat que ocupam.»
(Tradução livre)

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